sábado, 18 de setembro de 2010

ENTREVISTA COM JACKSON

Reproduzo antiga matéria do Maurico Naiberg (Bahia Noticias)

 Jackson, conte como começou sua carreira em Codó, no Maranhão.


 Bom, eu comecei jogando na Praça da Bandeira e todo final de tarde, entre as 16h30 e 17h, tínhamos nossa “pelada”, que é o Baba daqui. Aí, passou um senhor chamado Seu Vivi e me convidou para participar da segunda divisão de um campeonato de amadores e eu aceitei. Comecei a jogar no Grêmio, que é o nome da equipe de lá. Logo após esse campeonato, fui jogar no principal campeonato do Maranhão, que é o Codoense, pelo Fabril. Fiz algumas partidas e veio uma equipe da capital São Luís me buscar e eu acabei aceitando a proposta do MAC (Maranhão Atlético Clube), onde passei três anos e fomos tricampeões maranhenses. Depois, tive uma oportunidade de ir para o Mogi Mirim, onde fiquei um ano, e quem comandava era Vadão, meu primeiro treinador profissional. Logo após, voltei ao Maranhão de novo, pois não consegui ser vendido. No mesmo ano eu fui emprestado para o Goiás, que tinha como treinador Hélio dos Anjos e também não consegui ser vendido. Eu tinha o objetivo de não voltar mais para o Maranhão. No ano seguinte, fui para o Comercial-SP, onde participei da terceira divisão do Campeonato Brasileiro e consegui que me comprassem. Fiquei um ano lá. Depois fui vendido ao Sport-PE, onde passei dois anos e as coisas começaram a melhorar pra mim. Na minha última temporada no Sport, houve propostas de muitas equipes do Brasil e eu optei pelo Palmeiras. Por lá, fiquei mais dois anos de muita felicidade. Conquistei vários títulos. Do Palmeiras, fui para o Cruzeiro e passei mais dois anos. Consegui ter duas temporadas muito boas no Cruzeiro. Depois fui para o Internacional, com (Carlos Alberto) Parreira no comando, e fiz um dos melhores campeonatos que joguei, inclusive sendo artilheiro do meu time, mesmo sendo meia. Do Inter, eu fui para o Paulista de Jundiaí. Tinha feito um acordo com a Parmalat para pegar meu passe. Depois fui para o Gama-DF, Coritiba e Ituano. Após a passagem no Ituano, voltei para o Coritiba, onde fiz mais três temporadas no clube, o que foi muito bom pra mim. Tivemos um acesso à Libertadores, mas também caímos para a segunda divisão. Após essa passagem pelo Coxa, voltei para o Ituano e enquanto treinava ia resolvendo meu próximo contrato. Tive varias propostas, do Figueirense, São Caetano, Ponte Preta, mas tive uma lesão grave no joelho e não achei correto chegar a um novo clube machucado. Então procurei me tratar primeiro, porque você sabe, no futebol eles querem para ontem. Aí recebi a proposta do Vitória e aceitei. Tive ainda uma ida para os Emirados Árabes, jogando um ano por lá. Vou fazer minha terceira temporada no Vitória e estou muito feliz aqui dentro, tive muitas coisas boas por aqui e pretendo prolongar aqui dentro por mais tempo.



BN - Sempre jogou na meia ou tinha uma posição que gostasse mais?



Jackson - Quando joguei no Cruzeiro, o Felipão me adaptou na posição de ala. Foi uma das posições que joguei bem. Já joguei de volante e de atacante também. Fiz varias funções dentro de uma equipe. Aqui no Vitória mesmo já joguei de ala, volante. Esse ano, com Mancini, joguei até de líbero contra o Goiás, então (vem daí) essa facilidade de jogar em várias posições. Isso me deixa mais à vontade. Quando eu sinto que não vou render em uma posição, procuro sempre falar com o treinador para não me usar.



BN - Quando começou, acreditava que faria tanto sucesso no futebol?



Jackson - Não, de maneira nenhuma. Até mesmo pelo lugar de onde em vim, que é bem complicado. Antigamente, para sair de lá era a maior luta. Hoje está mais fácil, tem muitos olheiros por lá hoje. Mas antes era um problema. Tanto é que eu fui tricampeão maranhense e as propostas foram muito poucas. Por isso, a primeira que veio eu acabei aceitando. Era a minha chance de sair de lá. Na minha cabeça, era para sair e não voltar mais. Para voltar a jogar lá de maneira nenhuma. Graças a Deus eu consegui. Tive vários amigos meus que foram para o lado Fortaleza e o único que conseguiu pelo lado de São Paulo fui eu. Fico muito contente por isso e minha vida está o que é hoje pelo meu esforço. Eu amo o futebol, vou jogar até quando me quiserem.  
 
BN - O futebol, logo que começou, era muito diferente do de hoje em dia. Essa badalação em jogadores jovens prejudica a carreira deles ou você acha normal?




Jackson - Olha, tem os dois lados. Muitas vezes o jogador fala que não atrapalha, mas atrapalha sim. Isso aconteceu comigo já. No ano passado vieram algumas equipes atrás de mim e saiu em um monte de lugar e isso atrapalha. Porque você vai ouvir propostas, quantias, valores e isso não é bom para um atleta. Ainda mais um moleque que está começando agora, querendo ganhar o seu dinheiro, querendo fazer a vida da sua família, o que eu acho uma coisa certa, procurando ficar o mais rápido possível de bem com a vida, pois nunca sabemos o que vai acontecer amanhã. Mas eu acho que mais atrapalha do que ajuda, porque acaba prejudicando seu rendimento na equipe que está jogando e eu tenho experiência própria disso.



BN - Após uma excelente passagem pelo Sport, você foi contratado pelo Palmeiras para a disputa da Libertadores em 1999. Qual a melhor lembrança dessa competição?



Jackson - Minha melhor lembrança foi um jogo que fizemos contra o River Plate-ARG, na Argentina, onde a gente precisava de uma vitória para poder passar de fase. Nesse jogo eu atuei como volante e conseguimos vencer o River por 3 x 2. Fizemos 2 x 0 e eles empataram. No finalizinho, eu fiz o terceiro gol. Foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo, em passar de fase com a minha colaboração, foi espetacular. Eu não esqueço esse jogo nunca.



BN - E a pior?



Jackson - A pior foi com o Cruzeiro na Libertadores também, onde eu tinha que bater um pênalti e, se eu fizesse, passaríamos de fase. E eu acabei perdendo. Esse jogo foi no Mineirão e foi minha maior decepção dentro do futebol. Foi um dos motivos que saí do clube. Acho que minha sina é essa, pois até hoje no futebol, eu não fiz uma gol de pênalti valendo três pontos em nenhum campeonato. (risos)



BN - Qual o campeonato que mais gostou de ganhar? Foi essa Libertadores? Por quê?



Jackson - Foi a Libertadores mesmo. Muito bom ganhar a Libertadores. A Copa do Brasil no mesmo ano. Foi espetacular. Eu estava em uma fase de ganhar dois títulos por ano e sempre títulos importantes e isso foi demais pra gente. Eu lembro que o São Paulo veio jogando pelo empate no Mineirão, e saiu com 1 x 0 e a gente virou o jogo. Foi um espetáculo aquilo, é um título que a gente não esquece nunca, principalmente pelos companheiros que tínhamos. Por isso mesmo que a gente vai recordando dessas lembranças.



BN - Você foi convocado três vezes para a Seleção Brasileira em 1998. Faltou o que para disputar o Mundial daquele ano?



Jackson - Eu sempre falo isso para o meu pai. Estava tendo uma sequência boa na seleção brasileira. Quando cheguei ao Palmeiras, tive umas chances ainda. Mas em uma partida pela Copa do Brasil, contra o São Raimundo, acabei tomando uma pancada no meu tornozelo, que acabou afetando meus ligamentos, em uma hora que não poderia ter acontecido. E por essa lesão, com a convocação uma semana depois, acabou atrapalhando muito. Não tive mais sequência. Passei uns dois meses machucado. Além disso, tenho problema de não tomar medicamento, complicando ainda mais.



BN - Será que a seleção perdeu o penta em 98 para a França por causa da sua ausência?



Jackson - Não digo pela minha ausência, mas se não tivesse tido essa lesão, tenho certeza absoluta que poderia ajudar. Estava em uma fase muito boa, fazendo gols, e essa contusão me deu aquela freada. O Brasil é recheado de atletas bons e logo o treinador convocou outro. Depois teve outra convocação e eu sempre machucado. E quando você não joga, machucado, acaba no esquecimento. Foi o que aconteceu.

BN - Qual o melhor treinador que já teve?




Jackson - Eu tenho uma admiração muito grande pelo Parreira, o próprio Luis Felipe Scolari, Paulo Autuori. Gostei muito de todos eles. Felipão pelo seu jeito durão. Parreira pela inteligência que tem educação, ética espetacular. Eu gostei muito de trabalhar com Parreira.



BN - E a experiência que teve no futebol árabe, valeu a pena pelo lado financeiro ou não compensa?



Jackson - De experiência no futebol, você não ganha praticamente nada. Compensa mais financeiramente mesmo. O futebol é um pouco atrasado. Eles tem lá o que a gente não tem aqui e o que a gente tem aqui eles não tem lá. Eles tem dinheiro e muita estrutura, mas não tem jogadores. Aqui a gente tem muitos jogadores e o dinheiro vai ficando escasso. Você aprende a cultura deles, que é gostosa. É um paraíso. Mas em termos de futebol, você não tem muito que aprender lá não. Acho que no Brasil as coisas estão bem mais modernas.

Nenhum comentário: