quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

UM CARNATAL ORIGINAL



O abadá, qualquer traje preto e branco. A multidão pulava ao som de músicas locais.
Pipoca, apenas de milho e na mão de meninos.
Tinha doze anos e guardo as imagens daquela noite de seis de Dezembro de 1973.
Ladeado por Pai e irmão, cedo postei-me à frente do récem inaugurado Conjunto Mirassol, onde morávamos havia quatro meses. Busquei uma posição privilegiada em
frente a Indústria T. Barreto (hoje supermercado Multinacional), bem próximo a antiga SORIEDEM, atualmente Shopping Via Direta.

Neópolis, era a porta de entrada de Natal e para lá deslocaram-se milhares de frasqueirinos, saudosos dos seus ídolos.
CARNAVAL EM DEZEMBRO, MARCA A VOLTA DO ABC, manchete da imprensa local.
Pesquei no link "Reportagens" do nosso site, matéria de Rubens Lemos Filho.
(Diario de Natal de 05.12.1993 - arquivo de Ozastro Luis da Silva)

" A multidão começou a se espremer às margens da BR-101 em Canguaretama, a 80 quilômetros de Natal. Era 6 de dezembro de 1973, e a ditadura feroz reprimia homenagens a políticos e manifestações de protesto. Mas não poderia proibir a explosão dos fiéis da religião em preto-e-branco.

A massa à beira da estrada esperava paciente a passagem de um ônibus vindo de Recife com 25 heróis. Era a comitiva do ABC que voltava de uma aventura - naquela época só havia essa definição -, pela Ásia e Europa.

O ônibus, que trouxe a delegação do Aeroporto dos Guararapes, onde houve o desembarque, cruzou um corredor humano formado por toda a avenida Salgado Filho. O povo matava uma saudade de 102 dias.

O ABC esteve na Turquia, Grécia, Romênia, Iugoslávia - jogou na hoje cidade-fantasma Sarajevo - Líbano, Etiópia, Somália, Uganda e Tanzânia.

Tetracampeão estadual, mas fora do Campeonato Brasileiro por causa de uma suspensão imposta pela antiga CBD - escalara irregularmente o lateral-esquerdo Rildo no Nacional de 72, o alvinegro estava sem perspectivas quando surgiu a mão milagrosa do empresário Elias Zacour.

Ele propôs uma temporada no exterior pagando US$600 por partida. Tímidos diante da oferta-surpresa, os dirigentes, liderados, por Aluízio Bezerra que morreu quatro anos depois - não esqueceram de valorizar a cria e pediram mais que o dobro: US$1.500.

Uma rápida negociação e o contrato estava assinado: O ABC viajaria e ganharia mil dólares por partida

Alberí, Danilo Menezes e cia. partiram no final de agosto. Cruzaram continentes e mostraram aos gringos a ginga da bola brasileira, ópio do povo em pleno milagre econômico.

Chefe da delegação, o ex-dirigente e hoje conselheiro Jácio Fiúza tem na ponta da língua uma frase que define o feito do clube: "Foi emoção atrás de emoção. A excursão foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não sai da memória, é indescritível".

A história dá razão ao veterano cartola. O ABC viu de perto a guerra do Líbano, foi bajulado pelo governo do ditador Idi Amim Dada e encarou a seleção romena, que tinha endurecido o jogo contra a seleção brasileira na Copa do México, três anos antes.

Termômetro sentimental da cidade, na visão do radialista Celso Martinelli, que também viajou, o ABC deixou sua torcida numa orfandade temporária e tem lugar guardado no ranking internacional: É o clube brsileiro com maior invencibilidade em campos estrangeiros: 14 partidas sem perder.

Uma maratona que 35 anos depois, enche de orgulho até o mais novo dos abecedistas."

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